quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Então é Natal


Espero que todos os leitores do blog tenham passado um ótimo Natal com suas famílias. Por aqui o Natal foi só com amigos esse ano, já que não tivemos visitas da família e nunca conseguimos viajar pro Brasil nessa época do ano por conta do preço das passagens (e do calor do Rio de Janeiro que eu não toleraria mais. rs).

 

Aqui na Austrália só é comemorado o dia 25 de Dezembro, dia do Natal, data em que as famílias se reúnem para um almoço, muitas vezes ao ar livres em parques. O feriado nacional é apenas no dia 25 e no dia 26 (Boxing Day). Como esse ano o dia 25 caiu num domingo, o feriado foi automaticamente transferido pro primeiro dia útil seguinte, ou seja, dia 27. O mesmo vai acontecer no réveillon, quando o feriado do dia 1 (domingo) será transferido para o dia 2.

Aqui as tradições do Natal são até certo ponto semelhantes ao Brasil, com árvore montada na sala, Papai Noel entregando presente pras crianças e tal. Só que aqui os presentes são entregues no dia 25 de manhã, já que não tem ceia no dia 24, e muitas família colocam no dia 24 junto com as crianças, antes delas dormirem, um prato com leite e biscoitos pro Papai Noel (Santa Claus em inglês) e um prato com cenouras pras renas. Eu e Thiago não somos religiosos e ainda não decidimos como vamos abordar o Natal com o Lucas. Quando ele crescer mais um pouco provavelmente vamos explicar sobre a base dessa celebração mundial, e o que ela significa pra nós (uma data em que reunimos a família e praticamos o desapego e a caridade, sem muito consumismo). Claro que vamos dar presente pro Lucas, mas sempre 1 só e aproveitando a data pra fazer uma limpa de desapego na casa e doar os brinquedos que ele não brinca mais. Tentei fazer esse ano um calendário do advento com a contagem regressiva do Natal e atividades diárias pro Lucas entender essa festividade, mas ele não pegou muito bem a coisa, acho que é muito novinho ainda daí vamos tentar de novo ano que vem. Além disso somos contra essa figura do Papai Noel, essa coisa de ameaçar criança de que tem que ser “boazinha” (pra começar que eu nem gosto desse termo “criança boazinha”) pra ganhar presente, enfim, vamos explicar a ele de onde surgiu o simbolismo do Papai Noel mas sem essa ligação de ganhar presente atrelado a bom comportamento porque não é o que praticamos em casa de uma forma geral (não aplicamos castigos, muito menos palmada, e acreditamos que educar é formar o caráter da criança através do entendimento do porquê uma atitude é errada – machuca outros ou a si próprio –, da prática da empatia e da construção do livre arbítrio desde bebe). Mas esse ano o Lucas ainda é pequeno demais pra esse tipo de conversa, então apenas reforçamos a data como um dia de reunir a família e amigos.

 

Como os brasileiros comemoram a véspera de Natal também, esse ano fomos convidados para uma festa com outros casais brasileiros no dia 24, que foi ótima. Muitas famílias juntas, muitas crianças, o Lucas se acabou de brincar. No dia 25 quando ele acordou demos o presente dele (uma cozinha da Ikea que ele amou – essa aqui) e fomos na casa de outro casal de amigos que tem um filho da idade do Lucas para um churrasco de Natal, com direito as crianças se esbaldando num banho de piscina no quintal.

 

É aquela coisa, quando não se tem família perto, os amigos se tornam nossa família, laços se estreitam mais rapidamente e é ótimo ver o Lucas crescendo com tantas crianças da idade dele, crianças que ele já reconhece como amigos, chama pelo nome, brinca junto. Temos feito com alguns casais de amigos “share care”, onde um casal cuida das 2 crianças por umas 4-5hrs enquanto o outro casal pode aproveitar pra fazer um passeio a dois. Nós ficamos com o filho de uns amigos semana retrasada, e ontem foi a vez deles ficarem com o Lucas, tendo eu e Thiago aproveitado pra ir no cinema, coisa que raramente fazemos por não ter família por perto pra ficar com o Lucas.

 

Essa semana está sendo de recesso pra quase todo mundo, pois tradicionalmente no período entre Natal e Ano Novo a maioria das empresas fecham e os funcionários tiram férias forçadas. É ótimo pois é uma época do ano que todas as famílias estão reunidas com as crianças, seja fazendo passeios ou viajando. Esse ano não viajamos, então estamos aproveitando pra ir com o Lucas pra muito parquinho, praia e piscina já que tem feito um calor atípico esse verão, com semanas seguidas de temperaturas entre 20-35 graus (o que é muito quente pros padrões de Sydney).

 

Meu escritório é um caso atípico e não fecha nesse período do ano, então hoje estou trabalhando enquanto o Thiago fica com o Lucas (as creches em sua maioria fecham também nessa semana entre Natal e Ano Novo). Mas hoje é o último dia de trabalho do ano e só retorno semana que vem (e espero que com posts mais frequentes para 2017). Então desejo a todos um Ano Novo repleto de realizações, com muito amor e paz (coisa que esse mundo está precisando urgentemente). :)

sábado, 24 de dezembro de 2016

Como é o dia-a-dia de trabalho como legal secretary/paralegal

Eu já fiz vários posts sobre minha carreira aqui, como foi difícil arrumar emprego na minha área, sobre como validar o diploma em direito, etc. Mas vira e mexe me perguntam como é de forma prática o trabalho de legal secretary/paralegal por isso resolvi escrever esse post.

Primeiro quero deixar claro que minha descrição é absolutamente pessoal, baseada na minha experiencia em apenas um escritório de advocacia, que é onde eu trabalho desde sempre aqui em Sydney. Meu escritório também é um pouco distinto porque não pratica direito australiano, apenas direito americano e tem como foco unicamente o mercado de capitais. Além disso meu escritório é pequeno, tem apenas 15 pessoas no total, então as funções não são muito especializadas. Com isso possivelmente as funções de um legal secretary/paralegal podem ser distintas em outros escritórios.

Eu fiquei 2 anos como legal secretary, entrei de licença maternidade e voltei há 1 ano e meio como paralegal.

Como legal secretary, minhas funções eram basicamente:

- lançar no sistema interno as horas de trabalho dos advogados (billable hours), ou seja, quantas horas o advogado demorou na atividade x no dia y para cada cliente/projeto que trabalhou. No fim do mês essas horas e a descrição correspondente são contabilizadas e o cliente recebe a fatura do escritório. Quem trabalha com direito consultivo no Brasil deve ter sistema parecido, no contencioso é que normalmente a cobrança é fixa por número de processo e não por horas trabalhadas;

- salvar docs que os advogados mandavam no sistema interno, imprimir/encadernar/tirar cópia/escanear docs, fazer edições nos docs (ou seja, adicionar comentários dos advogados, comparar docs, etc);

- fazer relatórios de horas trabalhadas num projeto, pra que os advogados fizessem uma checagem periódica do quanto estavam cobrando do cliente;

- atualizar os livros de jurisprudência/legislação com novos updates que a biblioteca da empresa em Hong Kong manda periodicamente;

- marcar voos/hotel para viagens de negócios dos advogados;

- preparar e enviar correspondência externa;

- preparar carta de auditoria;

- organizar a festa de fim de ano da empresa e demais comemorações internas;

- preparar cds de fechamento de um projeto, compilando documentos e material envolvido.

E outras mais que não me vêem a cabeça agora. Além disso, como o escritório é pequeno, sempre que ficávamos sem recepcionista eu tinha que cobrir também as funções da recepção (atender telefone, manter a comida limpa, cuidar do estoque de produtos e fazer pedido de novos produtos, etc) ou quando a office manager estava de férias eu cobria algumas das funções dela.

Cumulado a isso tudo, como os advogados sabiam da minha formação em direito, acabavam me dando também trabalhos mais jurídicos, por isso que quando eu voltei de licença maternidade troquei de cargo e voltei como paralegal. Como paralegal minha hora passou a ser billable (cobrada do cliente) e minhas funções se consolidaram como sendo primordialmente mais jurídicas como:

- fazer busca de precedentes para projetos;

- criar docs iniciais para os projetos, fazendo uma análise da empresa e do tipo de projeto envolvido;

- analisar balanços financeiros das empresas, assim como demais documentos para investidores e com base neles atualizar documentos do projeto;

- atualizar a planilha de taxa de cambio e as diversas fórmulas que criamos como média/mínima/máxima do período fiscal, etc;

- cuidar da database de marketing interna da empresa, e das diversas planilhas internas de projetos que temos;

- criar e atualizar pastas internas de casos precedentes;

- auxiliar os advogados de uma forma geral nos projetos.

Além disso ainda cumulo funções de legal secretary quando estamos sem uma, ou se o volume de trabalho está pesado.

O volume de trabalho varia muito durante o ano no escritório onde trabalho, seguindo mesmo o mercado financeiro, mas de um modo geral apenas os advogados são demandados a trabalhar por longas horas. Eu até já fiz bastante hora extra, já trabalhei 12hrs ou mais seguidas, mas pra mim é sempre opcional: se o volume de trabalho está pesado as vezes me pedem e se eu posso eu fico até mais tarde. Mas se eu não posso porque tenho que pegar o Lucas na creche, ou se ele está doente, é absolutamente ok dizer que eu não posso e sair as 5:30 da tarde no meu horário normal. Não é assim na maioria dos escritórios, acredito eu, principalmente para paralegals que muitas vezes trabalham longas horas tanto quanto os advogados. Isso é um pouco o que pesa na minha decisão de não validar meu diploma aqui. Porque uma vez advogada aqui eu não conseguiria ter a flexibilidade que tenho de trabalhar de 8:30-5 e apenas 3 vezes por semana. Por outro lado eu fico meio engessada no meu cargo e no escritório em que trabalho no sentido de não conseguir pegar novos desafios. Mas tudo na vida é uma questão de escolhas, né? Atualmente eu estou em paz com as minhas, quem sabe daqui a 5-10 anos eu não pense diferente e escolha outro caminho. :)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Escolas em Sydney


Eu já falei aqui no blog sobre como funcionam as creches, e se nunca falei sobre escolas é porque o Lucas está longe de ir pra uma e eu ainda não comecei a pesquisar sobre o assunto.


Mas como a Jaqueline me pediu pra falar sobre escolas, e com o que já ouvi falar de amigas, vou tentar escrever algumas linhas gerais sobre o assunto.

A educação na Austrália é pública como regra, mas existem escolas particulares. Dentre as particulares elas podem ser mais construtivistas (como as que seguem a metodologia Montessori ou Waldorf), ter uma base religiosa (católicas ou protestantes), podem ser separadas por género (só de meninos ou só de meninas ou mistas), etc.




(OBS: A educação só é pública para residentes e cidadãos. Qualquer outro tipo de visto não tem direito as escolas do governo gratuitamente, tendo que pagar uma taxa que gira em torno de AUD$5.000 – mais informações aqui: http://www.detinternational.nsw.edu.au/media-assets/trp/fees.pdf.)

Toda criança tem que estar matriculada numa escola quando completar 6 anos de idade. A idade mínima para ingressar na escola é 5 anos, mas crianças que façam aniversário até 31 de Julho podem começar na escola com 4 anos de meio (isso em NSW - em outros estados a data de corte é diferente). O primeiro ano escolar é chamado de Kindergarten (ou Kindy) e no site do governo de NSW tem bastante informação sobre o ingresso na escola. O kindy seria como a alfabetização no Brasil, seguido pelo Year 1 ao Year 6 (ensino primário) e Year 7 ao Year 12 (ensino secundário ou high school). 

Antes do kindy, crianças de 3 anos e meio ou 4 anos podem frequentar uma creche (daycare, sendo que todas tem uma preparação especial para a “big school” quando chega na turma de 3-5 anos) ou pre-school que são pré-escolas geridas pelo governo. A diferença é que a pré-school é bem mais barata que um daycare (porém do valor pago não incide o rebate de childcare que o Centrelink paga para residentes e cidadãos), e o horário é reduzido seguindo o horário escolar (9am a 3pm).

Falando em horário escolar, uma dúvida que me surgiu logo no início foi: se a escola funciona de 9am a 3pm e tem 2 semanas de férias a cada 2 meses, como fazem os pais que trabalham integral de 8-5? A resposta é: ou se contrata uma babá para o restante do dia, ou se matricula a criança num before/after care (chamado de Out of School Hours – OOSH) e vacation care, que cobrem o restante das horas a um custo em torno de $15-$18 por dia (maiores detalhes aqui).

As escolas públicas todas tem “catchment area”, ou seja, só aceitam alunos que morem num certo raio de distancia da escola. Então é muito comum as famílias escolherem onde vão morar baseado na escola daquele bairro ser boa ou ruim. Vc até pode aplicar pra uma escola pública de bairro diferente ao seu, mas entra numa lista de espera e só vai ser chamado se naquele ano letivo não tiver aluno suficiente do bairro para suprir as vagas. As escolas privadas não tem isso, mas ainda assim as pessoas costumam buscar escolas em subúrbios próximos de onde moram, primeiro pra que a criança não perca muito tempo em deslocamento todo dia, segundo para que os amiguinhos que fizer morem perto para se encontrarem nos fins de semana e férias.

O governo tem um site com o ranking de escolas por estado (públicas e privadas) baseado no desempenho escolar dos alunos. Para escolas privadas, tem um site muito bom com um guia de escolas e infos aqui.

A Jaqueline perguntou sobre escolas mais construtivistas. O que eu ouvi dizer é que a maioria das escolas públicas na Austrália são mais construtivistas e menos conteudistas de um modo geral, focando mais no desenvolvimento individual de cada aluno. Mas como eu disse não conheço detalhadamente esse assunto nem o currículo escolar, então não formulei uma opinião sobre isso.

Existem algumas escolas privadas que seguem métodos notoriamente construtivistas como Steiner (como a Glenaeon School) ou Montessori (no site Montessori Australia tem uma lista das escolas verdadeiramente Montessori. Fiz essa ressalva pois existe um daycare muito famoso aqui em Sydney, o Montessori Academy, que apesar de se intitular Montessori não segue efetivamente o método. Veja bem, não estou criticando o daycare, inclusive é esse daycare que o Lucas frequenta e eu adoro, mas pra quem conhece e já estudou o método como eu sabe que eles não são 100% Montessori – eles tem muito material Montessori, tem algumas educadoras qualificadas no método, mas não todas, e o dia a dia do daycare não é 100% Montessori apesar de incorporar algumas coisas do método). Há ainda outras escolas progressistas como a Kinma School mas eu nem tenho como listar todas porque como disse não conheço mais profundamente sobre isso. Eu gostaria muito que o Lucas estudasse numa escola progressista, mas não sei se financeiramente falando isso seria viável, primeiro pelo custo da escola em si e segundo porque a maioria dessas escolas ficam no norte de Sydney que são bairros por si só mais caros pra se morar. Meu sonho era que o Lucas fosse pra uma escola Montessori, mas já descartei pelo alto custo envolvido.

Eu ainda fico meio perdida no assunto escola, vejo amigas australianas falando com propriedade sobre as escolas boas e ruins e eu fico perdida porque não cresci aqui, não frequentei as escolas aqui. E é muito difícil filtrar opiniões sobre escolas porque depende muito do perfil da família, do que os pais querem pro filho. Enquanto algumas famílias fazem questão de ensino religioso, eu e Thiago achamos que religião e escola não podem se misturar. Enquanto pra algumas pessoas o principal é o conteúdo, é que a criança aprenda a ler e escrever o quanto antes, tire nota alta nas provas, etc, pra mim e Thiago o mais importante é o desenvolvimento de outras habilidades como o raciocínio crítico, a inteligência emocional, a criatividade, etc. Então o perfil da família vai influenciar diretamente na escolha da escola e consequentemente na opinião (que sempre é subjetiva) de se uma escola é boa ou ruim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

É possível trazer remédios para a Austrália? Como fazer?

Essa é outra pergunta que eu recebo de vez em quando, e também é uma dúvida que sempre surge nos grupos de brasileiros no Facebook.

De acordo com o site da imigraçãoaustraliana, os medicamentos podem ser agrupados em 2 grupos:
 
- os que exigem uma licença para serem trazidos (não confundir licença com receita, a licença é uma autorização especial do governo australiano para entrada de certas substancias);

- os que não exigem licença.

“You do not need a permit to bring in most prescription medicines even if they contain a controlled substance, so long as:
  • you are arriving in Australia as a passenger on board a ship or aircraft
  • the medicine is carried in your accompanied baggage
  • you carry a letter or copy of your prescription (written in English) from your Doctor to certify that the medicine has been prescribed to you to treat a medical condition
  • the quantity of the medicine does not exceed three months' supply.
You should leave your medicine in its original packaging.
I.                   Examples
Prescription medicine
II.                Exceptions
Some medicines always require a permit. This includes steroids, products containing DHEA, yohimbine, thalidomide, fenticlor and triparanol. Import permits for these medicines are issued by the Therapeutic Goods Administration.
If you run out of medication, you will need to either see a Doctor in Australia to have the medicine prescribed and supplied in Australia (if it is available in Australia) or you will need to check whether you need to apply for a permit from Therapeutic Goods Administration before you arrange have medicine sent to you.”

No site do governo australiano tem também um vídeo bem explicadinho sobre como trazer medicamentos que diz basicamente que:
 
- medicamentos para colesterol alto, pressão alta, glicose alta e ácido gástrico são permitidos;

- pílula anticoncepcional é permitida;

- antibiótico é permitido;

- medicamentos para medir glicose são permitidos;

- medicamentos para ajudar a dormir (sedativos) são permitidos.

Todos os medicamentos listados acima devem ser para uso pessoal (ou de alguém sob seus cuidados), não podem ser doados ou vendidos para ninguém aqui na Austrália, devem estar na embalagem original (se possível), devem ser em quantidade suficiente para no máximo 3 meses e devem estar acompanhados de receita médica em inglês. Depois desses 3 meses vc deve obrigatoriamente procurar um GP aqui na Austrália para obter receita para mais medicamento, sendo que trazer a receita do Brasil em inglês já é meio caminho andado pra só ter que pedir ao GP aqui para te receitar o medicamento equivalente.

Segundo o site da imigração, só há necessidade de declarar medicamentos se esses forem capazes de causar abuso como esteróides, analgésicos opiáceos, cannabis ou substancias a base de narcóticos. No caso de remédios normais para enjoo, anti-alérgicos, tylenol, luftal, etc, não há necessidade de declarar.

Um parêntesis muito grande tem que ser feito com relação a dipirona. Essa medicamento, apesar de amplamente comercializado e utilizado no Brasil para tratar dores em geral, foi banido de diversos países do mundo por conta de seus efeitos colaterais potencialmente graves, incluindo a Austrália. Tanto que a dipirona se encontra na lista de substanciasproibidas e sujeita a uma licença especial do TGA (órgão australiano) para sertrazida para a Austrália. Então, nada de trazer dipirona/novalgina e afins!  Ah, e me parece que o dorflex também tem dipirona na composição então também não seria permitido. Outros analgésicos como tylenol (vendido aqui como panadol), ibuprufeno (conhecido aqui como nurofen e outros nomes como advil), aspirina (aqui aspirin) são liberados.

Eu sei que essa questão de medicamentos é base pra muita discussão porque muita gente diz que só dipirona cura sua dor de cabeça, só dorflex funciona pra dor x ou y, mas gente, vamos nos conscientizar que se vc está se mudando para um outro país vc terá que se adaptar as regras locais, a comida local e aos remédios locais. É só uma questão de adaptação, de achar um médico da sua confiança aqui e adaptar sua medicação para o que é comercializado aqui. Eu sei que pra quem tá chegando isso parece um bicho de 7 cabeças, mas se vc vier com a mente aberta e disposto a abraçar uma nova cultura, vc não vai ter problema em se adaptar. O que não vale a pena é correr o risco de ser pego e deportado, ou pagar uma multa, porque tentou trazer medicamento ou item de entrada restrita na Austrália. Para uma listagem mais geral de substancias restritas, vide esse site e esse também.

Eu não achei informações específicas sobre homeopatia, o que o site da imigração diz é que tem que se ter cuidado com medicamentos de manipulação porque sua composição pode incluir alguma substancia controlada então tem que conversar com o médico no Brasil para ver se algumas das substancias presentes no medicamento são de entrada restrita na Austrália conforme a lista que consta do link do parágrafo anterior.

Na dúvida, consulte a imigração australiana antes de vir.

Ah, e antes de terminar esse post deixa eu contar uma história engraçada que aconteceu comigo quando cheguei aqui pela primeira vez. Eu trouxe alguns remédios com receita, como pílula, antibiótico, omeprazol, etc. Fiz uma carta em inglês com o nome do remédio, a dosagem e a finalidade e pedi pro meu médico assinar ainda no Brasil. Cheguei aqui com tudo bonitinho mas quando fui preencher o papel da imigração tem a seguinte pergunta:


Como a pergunta não especifica que tipo de “medicine”, e eu não sabia dessas questões que contei aqui no post, fui lá e marquei “YES”. Daí me mandaram pra uma fila especial com os funcionários vestidos com uma roupitcha especial como essa:

 
Imaginem meu desespero! Me senti a própria traficante de drogas (como se traficantes declarassem que estão trazendo drogas…). Quando chegou minha vez o carinha me abordou pra saber 1) se eu estava sozinha; 2) que substancia estava trazendo. Quando eu falei que era remédio de uso normal (já me justificando que tinha receita em inglês e tudo certinho) só faltou o cara rir da minha cara e me mandou passar direto pra saída. haha  Por isso não sigam o meu exemplo: a não ser que vc esteja trazendo alguma substancia proibida, a resposta pra essa pergunta do formulário será sempre “NO”. ;) 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vacinas – calendário de vacinação infantil na Austrália

Vira e mexe me perguntam sobre como é a vacinação aqui na Austrália, principalmente quem está vindo com crianças.  Quem mora aqui também sempre tem dúvida sobre se precisa vacinar os filhos quando vai visitar a família no Brasil ou não, daí resolvi fazer esse post com as informações que obtive desde que o Lucas nasceu.

Primeiro para quem está vindo morar na Austrália com o(s) filho(s): vc tem que trazer a carteira de vacinação do seu filho e obter a equivalência aqui. Eu aconselho trazer a carteira traduzida, ou traduzir aqui, e levar a um consultório do GP (general practitioner) para que ele possa lançar os dados no sistema nacional de imunização. Toda criança aqui quando nasce recebe um Blue Book (íntegra aqui), que é um livro azul com todas as informações gerais da criança e as datas dos check ups obrigatórios onde será medido crescimento e avaliado o desenvolvimento geral da criança. Aqui na Austrália esses check ups são menos frequentes que no Brasil no primeiro ano da criança, ocorrem apenas nas seguintes idades:

- newborn (recém nascido)

- 1 a 4 semanas de vida

- 6 a 8 semanas de vida

- 6-8 meses de vida

- 1 ano

- 1 ano e meio

- 2 anos

- 3 anos

- 4 anos

Claro que vc não está impedido de levar seu filho no GP ou nos Health Centre (com enfermeiras) entre essas datas, muito pelo contrário, se vc tem qualquer dúvida ou preocupação com relação ao crescimento da criança, não só pode como deve levar com mais frequência. O Lucas, por exemplo, entre os 6 meses e 1 ano teve consultas mais frequentes não só no Health Centre com as enfermeiras como o GP também o encaminhou pra um pediatra porque tinha preocupação com o crescimento dele. Depois de alguns meses de acompanhamento foi constatado que o crescimento dele era normal, só mais lento (baixinho como os pais esse meu filho. rs) e recebemos alta do pediatra continuando apenas no GP.

A maioria desses check-ups inclui também a vacinação, que, pelo menos em Sydney, é feita pelo GP. Lembrando que a vacinação infantil é obrigatória na Austrália e esse ano o governo instituiu uma nova lei que determina que as crianças que não forem imunizadas não terão direito a diversos benefícios sociais, incluindo o auxílio creche. Além disso a maioria das creches e escolas pede o “immunization record” da criança para que seja feita a matrícula. Há alguns meses eu recebi uma carta do governo dizendo que meu benefício ia ser cortado porque a vacinação do Lucas de 18 meses estava atrasada – não estava, foi um erro do GP que não deu um reforço da vacina de coqueluche que tinha sido recentemente incluído no calendário de vacinação – mas isso mostra como o governo confere mesmo e marca em cima dessa questão porque nos últimos anos tem virado moda a campanha anti-vacinação nos países desenvolvidos, uma ignorância sem tamanho que está fazendo ressurgir doenças já erradicadas como a pólio e colocando em risco a saúde de todas as crianças.

Via de regra a tabela de vacinação no Brasil é mais abrangente que a da Austrália, porque muitas doenças que ainda são endémicas no Brasil já foram erradicadas na Austrália. Então se a criança está com a vacinação em dia no Brasil, muito provavelmente vai estar na Austrália também, é só uma questão de chegar aqui e levar a carteira de vacinação ao GP para ele lançar no sistema da criança (existe um “immunization record” com as informações de cada criança, que os pais podem consultar online pelo app do Medicare e imprimir o comprovante caso precisem apresentar na creche/escola).

O governo australiano tem um site bem completo sobre vacinação, com várias infos interessantes. Fiz um comparativo da tabela do Brasil e da Austrália pra facilitar.
 
 
 

Como vcs podem ver, as diferenças basicamente são:

- BCG não está no calendário de vacinação da Austrália porque a tuberculose não é endémica aqui;

- a vacina contra meningite C só entra no calendário da Austrália aos 12 meses de idade, enquanto que no Brasil começa aos 3 meses;

- a 3ª dose da vacina pneumococcal é dada na Austrália aos 6 meses de idade, enquanto no Brasil é dada com 12 meses;

- o reforço da penta (difteria, tétano, coqueluche) é dado com 15 meses no Brasil e com 18 meses de idade na Austrália;

- na Austrália não tem o reforço da vacina de pólio aos 18 meses, só aos 4 anos de idade;

- a vacina de HPV na Austrália só é dada na adolescência, não aos 15 meses de idade como no Brasil.

Todas as vacinas que estão no calendário oficial de vacinação na Austrália são dadas gratuitamente no sistema público pelos GPs e o valor integral é custeado pelo Medicare. Não sei ao certo se apenas residentes e cidadãos tem direito a essas vacinas de forma gratuita, ou se qualquer visto também dá direito – melhor checar com o GP.

Lembrando também que para entrar na Austrália é solicitado para todas as pessoas provenientes do Brasil o comprovante de vacinação contra febre amarela. Esse assunto já gerou muita discussão nos grupos de brasileiros, mas as infos oficiais e atuais são:

- a vacina contra febre amarela é requerida na imigração mas não é obrigatória (“People who are one year of age or older will be asked to provide an international vaccination certificate if, within six days before arriving in Australia, they have stayed overnight or longer in a yellow fever risk country. People unable to provide a certificate will still be able to enter Australia.”). Claro que se vc tem um visto temporário, ou mesmo na primeira entrada com o visto de residente, não vale a pena correr o risco de vir sem a vacina porque existe uma lei internacional de que qualquer país pode negar a entrada de qualquer pessoa, mesmo que tenha um visto válido, por qualquer motivo. Eu nunca ouvi dizer de alguém que teve a entrada negada na Austrália porque não apresentou o comprovante de vacinação contra febre amarela, mas sei lá, eu não arriscaria. Já se vc já é residente ou cidadão aqui, pode tranquilamente não apresentar – na nossa viagem pro Brasil esse ano eu optei por não dar a vacina no Lucas porque ele ainda é pequeno e estava tomando muita vacina na véspera da viagem, além da febre amarela não ser endémica no Rio de Janeiro onde ficaríamos. No retorno a Austrália, me pediram o comprovante dele, eu disse que não tinha dado a vacina, na imigração não falaram nada e só na alfandega um cara veio encrencar e chamou a supervisora, mas essa na mesma hora disse que a vacina não era obrigatória e ficava a cargo dos pais dar ou não pra criança, e nos liberou sem maiores problemas.

 
- antigamente se dizia que a vacina tinha validade de 10 anos e depois disso tinha que tomar reforço. Agora a OMS já decidiu que uma única dose é suficiente pra toda a vida:

 
- qualquer criança maior de 9 meses de idade pode tomar a vacina:

 
No Brasil vc tem que buscar o posto de saúde da sua cidade que aplique a vacina de febre amarela e de um cartão internacional de vacinação (em português e inglês) da Anvisa atestando a vacinação, que deve ser feita até 10 dias antes da viagem.

 
Para quem vacinou os filhos aqui na Austrália e quer ir ao Brasil, as principais vacinas que a criança não recebeu aqui pelo calendário oficial e no Brasil são obrigatórias são:

- meningite B

- febre amarela

- BCG

Como eu disse acima, as vacinas do calendário oficial são gratuitas e aplicadas por qualquer GP. As vacinas que não estão no calendário oficial também estão disponíveis, mas vc tem que pagar por elas e muitas vezes buscar um local específico que tenha o estoque. Ultimamente tem ocorrido uma busca grande pela vacina contra meningite B, e poucos lugares estão com estoque. Outro exemplo é que no último inverno eu e Thiago optamos por tomar a vacina da gripe, pagamos $20 para tomar no GP, mas não conseguimos dar pro Lucas porque o laboratório não estava enviando vacina da gripe pra crianças.

Nesse caso como fazer? Primeiro vc tem que avaliar seu caso concreto e conversar com seu médico daqui sobre a necessidade de dar essas vacinas. Vou contar o MEU caso, lembrando que sou absolutamente pró vacina.

Quando fomos no Brasil com o Lucas pela primeira vez, conversei com o pediatra dele sobre dar ou não a BCG (na época ele ainda era muito novo pra vacina de febre amarela). Liguei também pro departamento de pulmão do hospital da minha região, que é quem aplica a BCG aqui, e perguntei sobre a necessidade de dar a vacina pro Lucas. O que me disseram foi que, ainda que a tuberculose seja endémica no Brasil, o risco de contágio ocorre quando se passa mais de 3 meses no país, ou com contato direto com o doente. Como nós só vamos ao Brasil no máximo 1x ao ano e por no máximo 1 mês, não havia necessidade de dar a vacina pro Lucas, até porque a eficácia dessa vacina é de apenas 60% e como ela está no calendário oficial do Brasil, a imunização da maioria das crianças protege as não imunizadas.

Já a vacina de febre amarela eu ainda não me convenci da necessidade de dar pro Lucas, mas na dúvida vou acabar dando por precaução antes da nossa próxima ida ao Brasil. Quanto a de meningite, está uma luta aqui pra achar, mas pretendo dar assim que eu conseguir.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Minha experiencia como garçonete e babá (parte II)

Continuando o post anterior, vou falar sobre os trabalhos de garçonete e babá, que foi o que eu efetivamente fiz.

4) Waiter: dependendo do local de trabalho precisa do RSA, que é a licença necessária para se trabalhar em local que sirva bebida alcoólica. Assim como o White Card essa licença se tira fácil com um curso de 1 dia (mas pode ser online) pago (em torno de $100). Normalmente exige um nível mínimo de inglês porque vc vai lidar com o público e o salário varia muito desde locais que exploram e pagam $17 até $30 por hora em restaurantes mais finos. Na grande maioria das vezes exige experiencia, mas todo mundo dá uma mentida nesse quesito pra conseguir o primeiro emprego. Só detalhe que a maioria dos restaurantes exige que o garçom carregue 3 ou mais pratos de uma vez, o que não é tão fácil como parece.
Tem outros empregos na área de hospitality como: 1) kitchen hand (ajudante de cozinha) que costuma exigir pouco inglês mas paga pouco também; 2) glasser (quem trabalha em bar apenas lavando e secando copo de vidro – super interessante! #sóquenão); 3) atendente de bar (que normalmente trabalha a noite/madrugada; 4) runner (a pessoa que só entrega comida na mesa, ou seja, pega o prato pronto na cozinha e leva pra mesa, mas não interage com o cliente como o garçom, por isso costuma exigir menos inglês mas paga pouco também; 5) barista (quem faz café), este que paga bem mas requer muita, mas muita habilidade porque a questão não é só saber fazer café, mas fazer com uma rapidez imensa pra atender a demanda de uma cafeteria na hora do rush. Eu aprendi a fazer café num restaurante que trabalhei, e fazia modestamente bem, mas nunca ia conseguir fazer rápido o suficiente pra trabalhar como barista exclusivamente. Só fazia no restaurante porque era um ou outro café servido ao fim da refeição.

Minha experiencia foi assim: mandei trocentos currículos pra café/restaurante e não conseguia nada, até porque eu não tinha experiencia e nem sabia carregar 3 pratos. Daí um amigo brasileiro que trabalhava num café/restaurante me indicou pra dona (essa é a melhor forma de conseguir esses empregos aliás). Comecei com alguns poucos shifts (turnos) de trabalho e aos poucos fui pegando experiencia e pegando mais horas. O café funcionava de 7 da manha as 3 da tarde, e como servia bebida alcóolica no almoço eu tive que tirar o RSA. Como o café ficava a uns 20 minutos andando da estacão de trem mais próxima, eu madrugava pra chegar lá cedo. Mas o local era ótimo, despojado, o pessoal uma simpatia (tinham até 2 brasileiros trabalhando lá de garçom) e pagava bem, especialmente pra mim que não tinha experiencia. As gorjetas eram poucas (australiano não costuma deixar gorjeta boa, isso quando deixa, a não ser que seja em restaurante mais fino) mas eles faziam festas privadas (function) também a noite e eu muitas vezes fui escalada, até porque meu visto não tinha limitação de horas pra trabalhar, então eu conseguia tirar um bom dinheiro na semana. Eu adorava trabalhar lá, bater papo com os clientes, tinha uma vista incrível pra baía, mas eu trabalhava muito! Cheguei a pegar shift em que comecei as 7 da manha, parei as 4 da tarde e voltei as 6 pra function onde fiquei até 1 da manha trabalhando, em pé e carregando bandeja pesada, sendo que no dia seguinte pegava as 7 da manha de novo. Foi punk! Fora que nessa área de hospitality é regra trabalhar sábado, domingo e feriado. Esse café fechava no inverno, então quando fecharam eu fui procurar outro emprego e, como já tinha experiencia, arrumei logo num restaurante fino de frutos do mar, num outro bairro mas também de frente pra baía. Esse pagava ainda melhor e mesmo com as horas limitadas (eles só abriam de 12-15hrs pro almoço e de 18-21hrs pro jantar) eu conseguia tirar um bom dinheiro porque nos sábados e domingos recebia um ótimo adicional (feriado a hora era paga em dobro! Tinha briga pra ver quem ia trabalhar em feriado. rs) e as gorjetas eram ótimas! Cheguei a tirar $100 de gorjeta numa única noite! Eles ainda me davam comida depois do turno de trabalho (o café também dava, mas era sanduíche e tal, enquanto nesse restaurante era comida fina. Haha Muitas vezes cheguei em casa tão exausta que não tinha vontade nem de comer, e a comida ficava pro Thiago, que amava claro.) e deram a roupa pra trabalhar lá (basicamente uma camisa preta com o logo do restaurante e avental). Eu adorava trabalhar lá também, e poder conversar com os clientes melhorou muito o meu inglês. Só que quando o Thiago começou a trabalhar, o fato de eu trabalhar a noite e mais todo sábado, domingo e feriado começou a pesar porque passei a não conseguir mais encontrar com o Thiago em casa. Isso somado com o início do inverno (que eu sempre fico depressiva aqui, como já contei no blog várias vezes. rs) e a situação começou a ficar insustentável. Daí pedi as contas lá e me matriculei no TAFE, onde fiz o curso de legal services por 5 meses e logo em seguida arrumei um emprego no escritório de advocacia que estou hoje.
Nesse meio-tempo que trabalhei nos restaurantes, fazia também alguns bicos com empresas de function, que nada mais são do que empresas contratadas para servir comida/bebida em grandes eventos como shows, jogos de futebol/rugbi, etc. Tem várias desse tipo em Sydney, basta fazer uma rápida busca na internet. No meu caso a que eu me cadastrei foi a National Workforce. Funcionava assim: eu fiz o cadastro lá, fui numa entrevista (ridiculamente simples, não me pediram nem experiencia na área) e entrei no banco de dados dele. Quando tinha um evento que eles precisavam de gente, eles mandavam um SMS avisando e os primeiros que ligassem iam preenchendo as vagas. Como eram normalmente mega eventos, abriam muitas vezes dezenas de vagas pra um determinado evento. Eu se não me engano peguei 2: um show de rugbi e um festival de música eletronica. Em ambos os trabalhos foram simples e o pagamento por horas trabalhadas. Só consegui pegar esses 2 porque nessa época cheguei a cumular 4 empregos! (o do café, o do restaurante mais fino, o de babá e os bicos que fazia a distancia pro meu antigo escritório no Brasil).

5) Babysitter/nanny: teoricamente se costuma exigir um certificado de primeiros socorros (first aid) e o working with children check, além de experiencia, mas na prática, se rolar indicação de outras mães, é fácil conseguir sem esses documentos. Normalmente paga entre $20 e $30 a hora e pode ser um trabalho casual (quando os pais vão sair a noite ou no fim de semana) ou fixo (quando os pais trabalham e preferem deixar a criança com uma babá ao invés de na creche). Existe também as au pair, que moram de graça na casa da família em troca de cuidar das crianças da casa recebendo uma ajuda de custo em torno de $200-$250 por semana. Apesar de existirem au pair brasileiras, não é muito comum porque é difícil conciliar a função com as aulas da escola e cuja presença é necessária para viabilizar o visto de estudante. Normalmente é mais comum que as meninas que trabalham de au pair sejam de países que possuem o working holiday visa.
Eu não tinha muito tempo livre pra me focar em trabalho de babá, e nem experiencia ou as licenças necessárias, então nunca foi minha meta esse tipo de trabalho. Mas daí o gerente do café que eu trabalhava veio me oferecer pra cobrir a esposa dele como babá na casa da família que ela trabalhava enquanto ela estivesse de férias. Topei e foi maravilhoso! Na verdade eu não era bem babá e sim “mothers helper”, ou seja, ficava lá junto com a mãe das crianças só para auxiliá-la na rotina da tarde/noite (já que o pai só chegava depois que as crianças já estavam dormindo). Então eu começava as 5pm, ficava brincando com as crianças enquanto a mãe preparava o jantar ou fazia coisas dela na casa, depois ajudava a dar o jantar pras crianças, ajudava no banho e colocava as crianças pra dormir, terminando por volta de 8:15pm. As crianças não eram tão pequenas, tinham 4 e 7 anos, então era ainda mais fácil porque eles eram bem independentes. Quando eu ficava lá de bobeira ia ajudar a arrumar o quarto das crianças, a pendurar roupa no varal, coisas simples só pra me manter ocupada. Fiquei lá por 1-2 meses, e depois no ano seguinte quando a babá regular saiu de férias novamente cobri ela mais uma vez. No terceiro ano a mãe me chamou de novo, mas eu já estava grávida do Lucas e morando no Shire, bem mais longe e ficaria inviável o deslocamento, daí indiquei outra menina pro meu lugar. Foi uma experiencia ótima, as crianças eram uns amores e ficamos tão apegados mesmo em pouco tempo que me deu um dó deixá-los...

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Uma coisa que eu queria deixar claro com esse post sobre a minha experiencia é que aqui na Austrália, diferente do que ocorre no Brasil, nenhum emprego é considerado subemprego. Todos tem seu valor e um garçom vai receber o mesmo tratamento cordial de um advogado. Inclusive existem muitos estudantes de curso superior que trabalham nesses empregos durante a faculdade por conta dos horários flexíveis. Um exemplo é uma advogada recém formada no meu escritório que enquanto fazia a faculdade de direito e um estágio não remunerado de paralegal trabalhava de garçonete num pub a noite. E isso mesmo a família dela sendo podre de rica! Humildade e respeito ao próximo são características muito valorizadas por aqui e por causa da não disparidade de salários vc vai encontrar num mesmo restaurante o executivo de uma empresa e o barista/garçom/cleaner almoçando por lá.
Claro que tem muitas nuances envolvidas nesses empregos, e muita gente com experiencias bem variadas, mas em linhas gerais essas foram as minhas impressões e a minha experiencia.

domingo, 13 de novembro de 2016

Minha experiencia como garçonete e babá

Eu imagino que já tenha falado aqui no blog que até conseguir arrumar um emprego na minha área, trabalhei em hospitality (como é conhecida a área de atendimento ao público em geral) como garçonete e como babá. A parte de babá na verdade foi um curto bico, já já explico.
 
Mas deixa eu começar do começo. Cheguei aqui no último dia de janeiro e já sabia que ia ser difícil conseguir algo na minha área porque direito é aquela coisa, né, não posso trabalhar como advogada porque não validei o diploma, e não me contratavam pra posições menores porque diziam que eu era “overqualified”. Se pra outras áreas o tempo médio pra se conseguir um emprego não ultrapassa 6 meses, no direito tem gente que fica anos pra conseguir entrar. Eu demorei exatos 11 meses.

Enfim, nesse ínterim eu simplesmente não conseguia ficar sem trabalhar. O Thiago preferia focar em conseguir uma vaga na área dele (ele demorou 6 meses pra conseguir a primeira oportunidade) e nós trouxemos uma reserva financeira justamente pra cobrir esse primeiro ano inicial, mas eu simplesmente não consegui ficar parada.
 
As opções de emprego sem ser em áreas específicas mais comuns pra quem acabou de chegar aqui são cleaner (faxineiro/a), waiter/waitress (garçom/garçonete), labour (pedreiro de obra – para homens), shop assistant (vendedor de loja) e babysitter/nanny (babá). Existem muitas outras, claro, como traffic controler (controlador de transito em obra), delivery driver (motorista de entregas), moving (fazer mudança), mas as primeiras são mais comuns e vou me focar nelas.

Como muita coisa aqui na Austrália, vc precisa de uma licença específica pra alguns trabalhos. Vou falar genericamente sobre cada profissão e minhas impressões pessoais quando cheguei aqui:

1) Cleaner: não precisa de licença nenhuma, e muitos trabalhos não exigem inglês bom nem experiencia. É de longe o trabalho mais procurado pelas mulheres quando chegam aqui, até porque muitas sempre fizeram faxina em casa e sabem como funciona. Os horários também costumam ser flexíveis e fica fácil organizar com o horário da escola (pro caso de estudantes). O salário varia muito, tem desde gente que explora e não paga mais de $15, até bom salários de $25 a hora. Lembrando que o salário mínimo na Austrália é de $17.70 por hora (fonte: Fair Work). Como qualquer trabalho, é difícil as vezes conseguir a primeira oportunidade, mas depois da primeira os trabalhos tendem a brotar. Existe o cleaner de casa (que em sua maioria é feito por mulheres), onde as pessoas pagam por hora e a faxina brasileira é muito valorizada por ser mais detalhista, mas também existe o cleaner de obra (mais pesado e muitas vezes feito por homens) e o de escritório e demais estabelecimentos comerciais. Normalmente no de estabelecimentos comerciais se contrata uma empresa e essa empresa sub-contrata os cleaners. As reclamações que já ouvi desse cleaner comercial é que muitas empresas pagam x horas para que determinada empresa/loja seja limpa e o cleaner é que tem que se virar pra cumprir aquele prazo; se não cumprir, só recebe aquelas x horas e não o total que trabalhou. Muita gente gosta do cleaner de escritório por ser de noite, o que facilita pra conciliar com as aulas da escola.

Cleaner nunca foi uma opção pra mim porque 1) eu odeio fazer faxina, 2) sou extremamente lenta na faxina (em casa o expert nisso é o Thiago, ele é tão ninja que dizia que se não arrumasse emprego como arquiteto ia abrir uma empresa de faxina aqui), 3) queria um emprego onde eu pudesse aprimorar meu inglês que já era bom quando eu cheguei, e via de regra como cleaner se pratica pouco ou nada de inglês.

Uma variante de cleaner é housekeeping, onde se faz trabalhos leves da casa ou de um hotel. Eu não sei muito sobre essa área, mas já ouvi muita menina reclamando que o trabalho em hotel é bem puxado e não compensa.

2) Shop assistant: não precisa de licença nenhuma, mas tem que ter um bom nível de inglês. Não considerei como opção porque não tenho tino nenhum pra venda. É um trabalho que paga bem também (entre $20-30 em média) e o horário costuma ser o comercial.

3) Labour: precisa ter o White Card (licença necessária pra se trabalhar com construção na Austrália e como traffic controler em NSW; essa licença se tira fácil com um curso curto pago – em torno de $100). Não sei muitos detalhes até porque costuma ser um emprego exclusivamente masculino. O que ouço é que paga bem mas é pesadíssimo, mesmo caras acostumados a carregar peso podem não aguentar ou se lesionar.

Como esse post já está ficando muito longo, amanha faço sobre os trabalhos de garçonete e babá, que foi o que eu efetivamente fiz.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

É viável contratar faxineira e babá na Austrália?

Aproveitando a pergunta da Fernanda no outro post, vou comentar como nós fazemos atualmente na questão faxina/babá pra cuidar do Lucas.

Há 3 anos e meio atrás escrevi um post falando sobre limpeza e como eu fazia com a casa.

Agora a situação já é bem diferente. Primeiro que estamos num apto maior, com 2 quartos e 2 banheiros. Segundo que temos o Lucas que não nos deixa muito tempo. Uma coisa que mudou bastante desde que chegamos aqui e, principalmente, depois de ter filho foi nossa alimentação. Se antes era aceitável comer fast food ou pular refeição, agora com o Lucas temos tentado cada vez mais dar o exemplo e manter uma alimentação saudável. Eu nunca fui muito fa de comida de restaurante, uma vez por semana ok mas todo dia eu não curto. Acho salgada, gordurosa e prefiro mesmo o temperinho caseiro e a garantia de saber exatamente o que tem no meu prato. Quando o Lucas começou a comer comida, era bem simples por ser papinha (apesar de eu nunca ter feito papinha daquelas batidas, mas eu amassava e intercalava com frutas e legumes inteiros pra ele comer com a mão). Só que com 10 meses o Mr. Independencia resolveu que não queria mais aquela comida insossa e só aceitava comer o que a gente comia. Aí tive que cada vez mais me policiar pra manter uma alimentação saudável (tá, admito, ainda sou viciada em chocolate, mas agora só como quando estou no trabalho ou quando o Lucas tá dormindo). Com isso passamos a cozinhar cada vez mais. Ano passado comprei uma Thermomix que facilitou muuuiiitooo a minha vida. Primeiro porque passei a conseguir cozinhar com o Lucas no colo, segundo porque ela faz refeições completas de uma vez e em tempo record, além de cortar, sovar, triturar, cozinhar no vapor, etc etc etc. Atualmente uso ela pra mil e uma coisas e não tem um dia que eu não a ligue. Nossa rotina costuma ser assim: sábado ou domingo cozinho um cardápio pros próximos 3 dias, congelo excessos, faço comidas extras pro Lucas pra ter sempre no freezer (tipo muffin de legume, mini sufles, bolinhos sem açúcar, biscoitos de banana e aveia, etc). Nisso perdemos umas 3-4 horas, isso graças a ajuda da Thermomix. Na terça ou quarta a noite faço outro cardápio pro resto da semana e congelo o excesso. Esse cardápio é só pros nossos almoços e pro almoço e jantar do Lucas. No resto da semana faço eventualmente risoto/sopa pro jantar, pães e massa de pizza (já que esses itens não compro mais industrializado, faço apenas em casa). Todo dia de manhã faço ainda um green smothie pra toda a família, que se eu deixar o Lucas toma o meu todo. haha O que eu sou viciada em chocolate essa criança é em fruta, nunca vi!
Minha amada Thermomix:
 

Com toda essa atividade na cozinha, tenho que comprar legumes/frutas pelo menos 1 vez por semana, e de 15-15 dias fazemos compras no mercado. Com isso não sobra muito tempo para faxinar a casa, já que agora cada vez mais temos prezado descansar depois que o Lucas dorme e passear em família no fim de semana. Nos dias que eu fico sozinha com o Lucas eu normalmente lavo a roupa e dependendo do bom humor dele (e do grau de cooperação que ele está disposto a me dar) faço mais alguma coisa da casa. Se nós ainda fossemos fazer faxina pesada na casa íamos perder pelo menos metade do sábado ou do domingo, coisa que não estamos dispostos a fazer. Então a solução foi contratarmos alguém para fazer a limpeza pesada. Aqui essa pessoa se chama cleaner e cobra em média 25-30 por hora. Como sai caro, nós preferimos chamar alguém apenas uma vez por mês e no resto do mês nós fazemos a manutenção. Manutenção essa que inclui limpar a bancada da cozinha todo dia após usar, limpar a pia do banheiro no fim do dia, passar aspirador toda semana. Só que estávamos cada vez mais preguiçosos pra passar o aspirador, então acabamos comprando um aspirador robô que limpa a casa sozinho. Agora quando saímos de casa ou vamos dormir o Thiago liga nosso ajudante e ele vai limpando a casa sozinho. Como amo a tecnologia!
Nossa recente aquisicao - iRobot
 
Muita gente pensa que ter uma faxineira na Austrália é coisa de gente rica, mas não é! Eu sempre digo que é coisa de família com filho pequeno, porque a vida fica uma loucura e não dá tempo mesmo de fazer faxina pesada. Claro que é caro, mas nada estratosférico, ainda mais levando-se em conta que a faxina aqui é diferente do Brasil. As principais diferenças são:
 
- num apartamento de 2 quartos a faxina não costuma demorar mais do que 3 horas (a não ser que a casa seja muito suja ou bagunçada). Isso dá no máximo $75-90, valor bem razoável de se pagar 1x por mês ou a cada 15 dias.
 
- ainda que a cleaner seja brasileira e limpe mais detalhadamente, não é o padrão limpeza do Brasil. Em 3 horas de faxina não dá tempo de limpar todas as janelas minuciosamente, as persianas, dentro do forno, limpar com cotonete o rodapé (juro que conheço gente que faz isso semanalmente no Brasil!) nem tirar a sujeira que se acumula nos trilhos do armário de correr. Faxina do estilo TOC de ser só uma vez a cada eclipse lunar.

- como os cleaners cobram por hora, quanto mais bagunçada e suja a casa estiver, mais vc vai pagar pela limpeza. Então esqueça aquela mania de brasileiro de deixar a louça acumular a semana inteira pra empregada lavar, deixar roupa e tranqueira espalhada pela casa. Aqui as pessoas arrumam a casa no dia anterior a faxina, até porque muitas cleaners só limpam o que está a vista então se estiver com tralha espalhada no chão/mesa/móvel elas limpam em volta.

- apesar de a maioria dos cleaners serem mulheres, existem muitos homens nessa profissão. Principalmente se for cleaner de escritório e de obra. Quando eu me mudei de um dos meus aptos, contratei um cleaner indicado pela imobiliária para fazer o end-of-lease cleaning (http://awaywego-rumoaaustralia.blogspot.com.au/2013/09/end-of-lease-cleaning-ou-bond-cleaning.html) e era um senhor colombiano super gente boa. Fui na casa dele depois pra pagá-lo e ele morava no mesmo bairro que eu, numa casa própria com carro próprio igual ou até melhor que o meu.


E como contratar um cleaner? Existem várias empresas que fazem o serviço, inclusive empresas fundadas por brasileiros. Normalmente as empresas com cleaner asiáticas são conhecidas por serem mais rápidas na limpeza (elas fazem uma casa inteira em 40 minutos, porque normalmente vão 2-3 cleaners ao mesmo tempo, limpam bem superficialmente e cobram mais caro também pela hora) e as cleaner brasileiras são conhecidas por fazer uma limpeza mais profunda. A maioria dos brasileiros que moram aqui contratam cleaner por indicação de amigos ou anunciam nos grupos de brasileiros do facebook que estão precisando de cleaner (os principais grupos que eu participo são: “Brasileiras em Sydney”, “Papo Calcinha em Sydney”, “Maes Brasileiras em Sydney” e “Maes Brasileiras na Austrália”. Sim, são todos só de mulheres e o que não é só de mulheres – “Brasileiros em Sydney” – é de uma baixaria tão grande que eu desisti de participar). Eu anunciei num desses grupos e em algumas horas recebi dezenas de mensagens de meninas oferecendo o serviço! É um trabalho muito procurado por estudantes internacionais, primeiro pela flexibilidade de horário segundo por ser um trabalho que não exige fluência em inglês. Pra quem chega aqui sem falar nada de inglês é o trabalho ideal.

Eu escolhi uma das meninas que me escreveu mais no feeling, porque não exigi experiencia nem nada, e foi a melhor escolha que fiz! Ela é um amor de pessoa e sensacional com crianças, tanto que se tornou babá do Lucas também quando queremos sair eu e Thiago sozinhos no fim de semana. Pra vcs terem ideia de como ela é maravilhosa, indiquei pra várias amigas e em pouco tempo ela está com a agenda lotada de trabalhos como babá (cleaner ela nem tem mais tempo de fazer). Agora eu peno pra conseguir marcar com ela pra ir lá em casa porque ela tá sempre com a agenda lotada! Me ferrei… haha Brincadeira, falo pra ela que fico super feliz de ver que ela está colhendo os frutos do trabalho excelente que faz e de ser uma pessoa maravilhosa e de excelente coração.

Lembrando que aqui o cleaner é um trabalho valorizado como qualquer outro, não tem a carga negativa de “subemprego” que infelizmente se dá no Brasil. Fora que se vc chama alguém pra fazer faxina na sua casa, é apenas para fazer faxina. Se vc quer que tome conta do seu filho, vc paga por fora pelo serviço de babá. Se vc quer que passe roupa, vc paga por fora por esse serviço. Se vc quer alguém que faca comida, idem. E por aí vai. O termo “empregada” (em inglês “maid” ou “housemaid”) é considerado super pejorativo aqui e ninguém utiliza. Se vc quer alguém pra limpar sua casa vc contrata um cleaner. Pra levar o cachorro para passear, um dog walker. Pra cuidar do seu filho, uma babysitter ou nanny. Pra fazer outros trabalhos leves de casa (light housework), uma housekeeper.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Atualizações pós férias

Obrigada a todos que comentaram no post anterior sobre o meu desanimo em criar novas postagens. Já estou com várias ideias para novos posts, pelo menos até o fim do ano acho que a atualização do blog está garantida! Daí em 2017 faço novo post pedindo mais dicas. haha

Como eu expliquei pra Jacqueline no outro post, eu não escrevo sobre outras áreas profissionais porque realmente não conheço muito sobre outras áreas, e se tem uma coisa que eu detesto é passar info errada ou na base do achismo, por isso nunca escrevi sobre outras profissões. Postei num grupo que participo no facebook pedindo relato de outras meninas em áreas diversas para que eu possa publicar como guest post, mas só uma me mandou um email.  :(

Como eu já trabalhei de garçonete e babá no ano que cheguei aqui, vou fazer um post sobre as minhas impressões dessas áreas pra quem tá chegando em down under. Vou fazer também um post sobre se tenho faxineira e babá em casa. Vou também fazer um post sobre os outros assuntos que me sugeriram nos comentários do post anterior. Aliás vou tentar fazer tudo hoje e já deixar agendado pra postar senão vou esquecer (impressionante como depois de ter filho minha memória foi pras cucuias…).

Mas hoje vou começar contando como foi o nosso retorno pra Austrália depois de 5 semanas de férias. 

Primeiro queria traçar um paralelo com a viagem que fizemos ano passado pro Brasil, quando o Lucas tinha 5 meses. Aproveitando o finzinho da minha licença maternidade, fiquei 6 semanas no Brasil com o Lucas entre o meio de abril e o início de junho, e o Thiago foi nos encontrar por algumas semanas também. O Lucas ainda era bem pequeno pra aproveitar e interagir com as pessoas, e eu ainda amamentava então não consegui ter muito tempo sozinha deixando ele com a família de babá. Naquela viagem o Lucas foi uma tranquilidade no voo (claro, ele não se locomovia ainda e qualquer brinquedinho bobo o mantinha ocupado), mas o jet lag foi punk! Como ele ainda era muito pequeno, ele trocou o dia pela noite por 1 semana (na ida e na volta) e eu não conseguia dormir de dia porque queria aproveitar com a família, e a noite não conseguia dormir porque o Lucas estava a corda toda. Sério, foi desesperador! Passado o jet lag aproveitamos muito com a família, o clima no Rio estava um espetáculo (amo o inverno carioca de sol e calor ameno) e logo estava na hora de regressarmos pra casa. No retorno, mais uma semana de jet lag dos infernos e pra piorar chegamos em Sydney no início de junho, em pleno inverno rigoroso, eu retornando ao trabalho e com o Lucas começando na creche nova, e consequentemente ficando doente sem parar. Foi trevas! Se tem uma coisa que eu não faço é romantizar a maternidade, e vou te dizer, o segundo semestre de 2015 foi absolutamente horroroso. Foram 4 meses do Lucas e eu doentes praticamente toda semana (até hoje eu pego todos os germes que ele traz da creche, oh sina!), o Lucas precocemente começando a andar (a criança simplesmente não engatinhou, com 7-8 meses já “andava” se segurando nos móveis e com 10 meses andava de forma independente) e com isso todo um estresse porque ele não parava quieto e caía horrores, tudo isso no auge do inverno que sempre me deixa meio depressiva. Quis voltar pro Brasil mil vezes!

Depois as coisas se acalmaram e chegou a hora da nossa viagem desse ano. Uma grande amiga casou em Londres então resolvemos fazer a loucura de passar 1 semana em Londres, 4 dias em Paris e 2 semanas e meia no Rio. Em 5 semanas foram 3 continentes, 65 horas de voo, 5 horas de trem, 3 fuso horários e uma criança hiper ativa. Os ingredientes pra um completo desastre, né? haha

Bom, o jet lag foi infinitamente melhor, porque agora maior o Lucas entrou meio que no mesmo esquema nosso: dormindo cedo e acordando de madrugada. Mas isso foi ok porque nós também estávamos desregulados. Fora que agora que ele dorme 9-10 horas seguidas a noite, ainda conseguíamos ter tempo pra gente.

Já os voos, ah, os voos… Nem vou falar muito pra não desestimular quem quer viajar com criança pequena. Fora que cada criança é diferente e eu conheço vários pais que dizem não ter trabalho algum. Bom, provavelmente esses pais não tem o furacão que eu tenho em casa. haha Digamos apenas que de 65 horas de voo nós tivemos umas 20 absolutamente infernais do tipo: “ABRE ESSA PORTA DE EMERGÊNCIA E DEIXA EU PULAR AGORA!” Mas pensando pelo lado positivo pelo menos 2/3 dos voos foi tranquilo (tá, digamos que 1/3 foi tranquilo e o outro 1/3 tolerável).

Sobrevivemos pra contar história e apesar do Thiago ter ficado meio traumatizado (haha) eu encararia de novo numa boa (sim, sou masoquista). A estadia no Rio esse ano foi ainda mais especial porque o Lucas já estava com 1 ano e 10 meses, começando a falar, mais independente e interagindo com o primo (que é apenas 6 meses mais velho). Foram dias de muita felicidade e merecido descanso pra mim e Thiago, com a família tomando conta da nossa ferinha por dias inteiros pra nos dar uma folga.

Daí chegou a hora de voltar… Eu estava meio apreensiva já lembrando a depressão básica que deu no retorno da viagem ano passado. Mas esse ano foi muito diferente! Primeiro que chegamos aqui em outubro, se não no calor pelo menos com um friozinho mais ameno. Segundo porque estávamos morrendo de saudade da nossa casa e do nosso estilo de vida aqui! Se por um lado com o Lucas maior ele aproveitou mais a família e deu um aperto do coração ter que nos separar de novo, por outro foi muito complicado andar pelo Rio com o Lucas. Se a violência já me incomodava há 5 anos quando eu morava lá, atualmente está insuportável. Fora a instabilidade económica, o jeitinho brasileiro que me irrita, o machismo em níveis estratosféricos, etc. Não tem a mais remota possibilidade de eu cogitar voltar pro Brasil. Por mais que metade do meu coração fique lá, e eu morra de tristeza de ver o Lucas crescer sem a presença da família, mas a qualidade de vida que temos aqui me fazem ter a certeza de que a Austrália é minha nova casa.

Criar um filho longe da família é um desafio e não vou mentir: faz muita falta! Faz falta quando ficamos doentes, quando precisamos de um tempinho como casal, quando estamos estressados e tudo que queremos é um almoço de domingo rodeado de “problemas” familiares pra tirar o foco dos nossos. Faz falta nos aniversários e nos bons momentos quando muitas vezes temos que esperar 12 horas pra contar uma novidade pra família e amigos próximos por causa do fuso. Mas isso tudo vem junto com o pacote de um expatriado. Agora, sabe qual o lado bom? (fora a qualidade de vida que tanto já falei aqui no blog) Fizemos uma nova família aqui! Temos amigos tão, mas tão maravilhosos que preenchem esse buraco no nosso coração. Amigos com quem podemos contar nos momentos difíceis, um grande grupo de famílias com crianças pequenas que formam a nossa “aldeia” e nos ajudam a criar o Lucas. Arrisco dizer que nosso grupo de mães/pais é muito maior e unido do que seria no Brasil. Todos que conheço por lá tem, claro, amigos com filhos, mas não se vêem com a frequência que nos vemos aqui. Claro que ajuda o fato de a maioria das mães aqui não trabalharem integral e todas precisarem de companhia (leia-se ajuda) pra entreter os filhos durante a semana porque senão a gente pira ficando 24horas com essas crianças hiperativas desafiadoras! haha Sabe aquele ditado: “é preciso uma aldeia pra se criar um filho?” Pois é, a nossa aldeia são os amigos e eu não poderia estar mais feliz com os que fiz em terras australianas.  :)

A Aline me perguntou também como estava o trabalho. Está o mesmo de sempre, ainda estou como paralegal no mesmo escritório de advocacia em que sempre trabalhei aqui. O Thiago na verdade é que teria infos mais interessantes pra passar nesse quesito, já pedi a ele pra escrever textos pro blog, mas tá difícil…

Bom, essas foram as atualizações pós viagem, no próximo post retomo aos assuntos específicos que me sugeriram. Até breve!